domingo, 9 de setembro de 2012

Veredas, veredazinhas



"Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas -e só essas poucas veredas, veredazinhas".  (pág 116)

"Agora, por aqui, o senhor já viu: Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequeno é vereda". (pág 90)

E que, com nosso cansaço em seguir, sem eu nem saber, o roteiro de Deus nas serras dos Gerais, viemos subindo até chegar de repente na Fazenda Santa Catarina, nos Buritis-Altos, cabeceira de vereda". (pág 323)


"Digo -se achava água. O que não em -apenas água de touceira de gravatá, conservada. Mas, em lugar onde foi córrego morto, cacimba d'água, viável para os cavalos. Então, alegria. E tinha até uns embrejados, onde só faltava o buriti: palmeira alalã -pelas veredas. E buraco-poço, água que dava prazer em se olhar." (pág. 525)

As citações acima, como tudo parece indicar, são do Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. A indicação das páginas podem variar de acordo com a edição, então, usei a 19ª Edição, da Editora Nova Fronteira, 2001.

Mas, qual a razão de trazer estas imagens e estes textos para o blog onde eu só falo da casa? É porque desde que comecei a construção (junho do ano passado), eu não tinha mais feito nenhuma viagem maior. Ficava literalmente "dentro da toca". Pois bem, neste fim de semana fui para Minas Gerais (Conselheiro Lafaiete e Congonhas) para uma festa de aniversário de 20 anos de meu moto grupo. Lá encontrei um amigo, de nome Giordano, que se dizia fã de Manuel de Barros. Eu comentei sobre a minha predileção por Guimarães Rosa (sim, na minha "bio" cito O Grande Sertão e digo também que sou motociclista e fotógrafo). Viu como as peças começam a se encaixar?

Então, já que citei o "Giordano", Vou contar-lhes o que vi hoje. No retorno para casa (rodei 830 km, na Fazer vermelhinha), entre BH e 3 Marias, passei pela entrada para Cordisburgo, terra natal de Guimarães Rosa. (Que dizia ser nascido no Burgo do Coração). Parei e fiz a foto que está no meio, "Circuito Guimarães Rosa". Rodei mais um pouco e fotografei de cima da ponte em 3 Marias as águas do "Velho Chico". A vida segue e a viagem também. Lá pras bandas de Andrequicé (terra de Manuelão, personagem que Rosa citou em outras obras também) eis que vejo a foto principal no alto da página: vários buritis e no meio deles uma pequena nascente, ou "vereda, veredazinha".

Coincidência? É pode ser...para quem acredita nelas. Ou como dizia Rosa: "Será não? Será?" (pág. 26)
Abraços a todos.



2 comentários:

  1. Meu amigo FFrajola, já tentaram definir Manoel de Barros como "o Guimarães Rosa da poesia", "o grande poeta das pequenas coisas" (v. orelha de O Livro das Ignorãnças). E já que você fala da casa ecológica, ele também já foi chamado de "o lírico da ecologia". De fato, "Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore" (in Livro Sobre Nada).
    Um grande abraço e parabéns pelo blog.
    José Giordano Neto - Barbacena/MG

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  2. Valeu, Giordano. Confesso minha ignorância sobre a obra de Manoel de Barros. Vou seguir sua dica e conhecer mais sobre ele. Ainda mais se for "o Rosa" da poesia. Abs.

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